terça-feira, 25 de outubro de 2011

Artistas lançam ofensiva pela liberação de espaço ao grafite


Viadutos, muros e áreas públicas estão na mira dos grupos; prefeitura defende que é preciso pensar na poluição visual
A tinta dos grafiteiros de São José dos Campos tem um alvo definido: a prefeitura. Eles vão começar um movimento para pressionar a administração a liberar espaços públicos para a grafitagem, a exemplo do que ocorre em São Paulo.
Viadutos, muros e áreas públicas estão na mira dos artistas de rua, que consideram tímida e insuficiente a política da prefeitura em permitir o grafite apenas em telas e exposições fechadas. Eles querem dominar as ruas, a alma da grafitagem.

“É legal a iniciativa de dar oficinas e expor em galerias. Mas pelo lado artístico e cultural, o grafite é arte de rua. Não dá para domesticar”, diz Weini Andrade, 24 anos, grafiteiro desde 1999.
Ele e outros grafiteiros da região sul de São José lideram o movimento que reivindica a liberação dos espaços públicos na cidade para o grafite, o que ainda não é permitido.
Antes da criação da Secretaria de Juventude, braço da prefeitura que dialoga diretamente com os grafiteiros, a prática era comparada à pichação e sofria
perseguição.
“Os guardas jogavam os grafiteiros no chão. Todo mundo que tinha spray era considerado pichador. Foram 10 anos de pressão”, conta Júlio Cesar Torquetti, 24 anos, grafiteiro da região sul de São José.
A contestação do movimento ganhou força após a sanção da lei federal 12.408, de maio de 2011, que descriminaliza o grafite. A norma prevê regras para a prática, que deve valorizar o patrimônio público e ser feita com autorização, seja em áreas privadas ou públicas.
Poluição. A demanda dos grafiteiros tropeça na subjetividade da própria lei, que permite o grafite “com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística”.
Para o secretário de Juventude, Alexandre Blanco, a cidade de São José optou por valorizar a limpeza como estética em contraponto à poluição visual. Foram limitadas placas, painéis e desenhos. Ao contrário dos grafiteiros, a capital é citada como um exemplo a não ser seguido.
“São José tem um patrimônio de limpeza que faz parte da cidade. É um valor dela. Para mudar isso \[e permitir o grafite em locais públicos\] é preciso uma discussão ampla e democrática com todo mundo.”
Na opinião de Blanco, a decisão de oferecer oficinas de grafite e de organizar exposições em eventos e galerias é uma forma de reconhecer o talento dos artistas, não de domesticá-los. “A prefeitura tem uma política para isso e gasta recursos públicos com os grafiteiros.”
Desde 2009, quando iniciou o programa ‘Grafite Legal’, que contrata grafiteiros como professores, a Secretaria da Juventude contabiliza 1.400 jovens nas oficinas de grafite.
Arte na rua. Um dos mais talentosos grafiteiros de São José, Bruno Fred, 26 anos, admite que a relação com a prefeitura avançou muito nos últimos anos, mas sustenta que as tintas dos sprays na cidade ainda podem ir mais longe.
“Nosso sonho é grafitar muros e espaços públicos grandes, como viadutos, para mostrar a nossa arte de rua”, diz.
Convidado a mostrar sua arte no Peru, no próximo final de semana, no evento mundial ‘Meeting of Styles’, Fred quer conquistar mais espaço aos grafiteiros de São José.
A meta dele é trazer o evento para a cidade e conseguir a liberação da prefeitura para a grafitagem de áreas públicas. Fred entregou um projeto na Secretaria de Juventude, que está em análise pela equipe do Grafite Legal, sugerindo áreas a serem grafitadas.

SAIBA MAIS
A leisem crime
A lei federal 12.408, de 25 de maio de 2011, descriminalizou o grafite, mas subordinou a prática ao objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística

A regrasem muro
Em São José, por entendimento da prefeitura, os grafiteiros não têm permissão de desenhar em espaços públicos, como muros e viadutos

O programapunição
Quem for pego grafitando em local não permitido pode sofrer a mesma punição do programa antipichação, que repintou só neste ano 130 mil m² de muros em 2.175 imóveis

A negociaçãoliberação
Os grafiteiros da cidade vão usar a lei federal como argumento para tentar convencer a prefeitura a liberar espaços públicos para o grafite de rua

A poluiçãodiscussão
O secretário de Juventude, Alexandre Blanco, diz que a questão da poluição visual tem que ser levada em conta
 Arte de joseense é reconhecida no exterior
São José dos Campos

Ele aprendeu a desenhar nas paredes e muros observando outros grafiteiros. Sem internet ou revistas especializadas, Bruno Fred, 26 anos, usou de criatividade e disposição para dominar a arte da pintura com sprays.
Hoje, Fred é um dos mais reconhecidos talentos no grafite joseense. Seu estilo colorido e variado o levou ao exterior, como quando pintou um muro de 2 quilômetros no Chile com outros 800 grafiteiros de vários países.
No próximo final de semana, ele desembarca no Peru para participar do evento ‘Meeting of Styles’, que reúne grafiteiros do mundo inteiro em um país escolhido.
Ontem, uma exposição de 15 telas de Fred foi aberta no Espaço Cultural Tim Lopes, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, no Bosque dos Eucaliptos, região sul de São José.
“Vivo do grafite. Montei uma empresa por causa dele e aprendi muito com os grandes artista que conheci, como ‘Os Gêmeos”, afirma Fred.
Grafitar pelo mundo, porém, não é o maior feito planejado por Fred. Ele quer grafitar em São José. Para tanto, tenta convencer a prefeitura.

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