quarta-feira, 24 de outubro de 2012

LULA CONVIDA MANO BROWN PARA DEBATE JUNTO COM HADDAD


A cidade de São Paulo, assim como tantos outros municípios brasileiros, está vivendo as expectativas para o segundo turno das eleições 2012, que escolherá os futuros prefeitos ou prefeitas para uma gestão de quatro anos.

E diante do desafio que se apresenta para a capital paulista, na última terça-feira (16), Mano Brown e Ice Blue, dos Racionais MC’s, Helião, Kamau, Negredo, Emicida e Rashid estiveram ao lado de Leci Brandão, Netinho de Paula, Arismar do Espírito Santo, Leandro Lehart, Fernando Anitelli, d’O Teatro Mágico, Ana Cañas, Daniel Ganjaman, André Frateschi &Miranda Kassin, Bruno Morais, Andreia Dias, participando de um  debate com Fernando Haddad, do PT candidato a prefeito, no qual a onda de violência que está assolando os bairros periféricos da cidade e o racismo foram os temas principais

E a tarefa de realizar esse encontro histórico não foi nada fácil. Tanto que o ex-presidente da republica, Luiz Inácio Lula da Silva, telefonou pessoalmente para o Mano Brown, a maior voz viva da cultura brasileira emanada a partir da periferia, para convida-ló  para o evento.
Tímidos, Haddad e Brown entraram no estúdio juntos. Cada um por seu lado, tomaram a atitude idêntica de cumprimentar os já presentes, um por um, com apertos de mão.

Dramaticamente apartadas na gestão atual, a força institucional do candidato  e a autoridade simbólica das ruas , Mano Brown e o rap foram ali apresentadas uma à outra, num processo que estava começando. Uma certa tensão pesava o ar, mas era mais que compreensível.
Haddad se apresentou formal e humildemente, lançou algumas ideias no ar e passou a ouvir. Tinha muito a ouvir, e a aprender.


Brown demorou a se manifestar, mas foi preciso. Disse que não estava aqui para falar de cultura, mas de extermínio. Usou o termo para qualificar a atitude das polícias sob direção tucana diante das juventudes negras, rappers, funkeiras, periféricas etc. “Quem reagir morre”, fazendo uma alusão aos recentes comentários do governo Alckmin , exemplificando com o assassinato, há poucos dias, de dois companheiros ligados ao núcleo formado pelos grupos Racionais MC’s, Negredo e Rosana Bronk’s. “O pano de fundo é a guerra contra o crime organizado, mas eles (o poder público paulista) estão matando por parecer ser”, afirmou o líder dos Racionais MC’s

Já Ice Blue foi igualmente certeiro: “Na grande verdade, os prefeitos e candidatos a prefeitos não sabem o que acontece com os pretos em São Paulo, não têm conhecimento de como os pretos são tratados aqui. O rap, esse movimento que continua sendo discriminado e marginalizado, foi o que mudou a cidade de São Paulo”. Silêncio. “Foi o rap que mudou a cidade de São Paulo, que devolveu o orgulho e a vontade de viver para o jovem negro de São Paulo. São Paulo não oferece nada, nada para o jovem negro. Pelo contrário, só tira.” Silêncio completo, enquanto Ice Blue falava.

Leci Bradão também mirou o tema do preconceito: “Eu vou ser obrigada a tocar na questão da raça, porque é uma verdade que existe em São Paulo. Nós sabemos que este estado aqui tem uma marca muito séria em cima da população negra. Quando os negros se juntam, a polícia chega porque pensa que vão fazer alguma coisa errada. É um pré-conceito, né?”.

Haddad concordou, e citou explicitamente, em mais de um momento de sua fala, os elementos racistas, protofascistas, da sociedade paulistana. “O racismo existe na cidade e precisa ser enfrentado”, diz. “Essa coisa protofascista que tem em São Paulo, como diz a Marilena Chauí, não vai se inibir naturalmente. Nós precisamos ter outra coisa aqui do outro lado para ganhar o espaço disso. É preciso ter uma reação, e essa reação, no que depender de mim, não será violenta. Será mostrar que existe outro caminho.”

Em seus discursos, Leci, Brown, Blue e os rapazes do Negredo tornavam palpável o que havia dito pouco antes Cláudio Prado, representante presente do movimento Fora do Eixo, ao lado de Pablo Capilé e Bruno Torturra. Ex-produtor dos grupos Mutantes e Novos Baianos e ex-ativista digital do Ministério da Cultura nas gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira, Cláudio trouxe a periferia, a margem, o estado de espírito fora-do-eixo, o ativismo digital, os pontos de cultura – e a cultura como um todo – para o centro da roda. E falou na linguagem de professor, acadêmico, cientista político, filósofo etc. de Haddad.

No diálogo, Haddad refuta a ideia corrente de que político se apresenta nas periferias em tempo de eleição e desaparece do dia da posse em diante. Disse a Brown que espera ser cobrado dele, e que espera encontrá-lo muitas vezes nos próximos anos.

“Daqui a um ano, Brown, num novo encontro, você pode dizer que ainda está ruim, ainda está difícil, mas vai dizer que o ambiente é outro, que tem uma perspectiva. A gente vai poder acompanhar isso juntos”, afirma. “Eu faço fé que a gente retome São Paulo. Esse é o nosso objetivo.”

Artistas antes resistentes a qualquer encontro deixam afrouxar as tensões pouco a pouco. Discursos aqui e ali deixam entrever que, se nosso voto prevalecer, todos, de centro ou de periferia, seremos co-governantes da cidade a partir do primeiro dia do próximo ano.

Haddad se despediu com um agradecimento, e levou para casa toda uma aquarela de desejos e reivindicações.


fonte: rapnacional.com.br

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