quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nova obra de Banksy critica escândalos sexuais na igreja católica




Ninguém sabe quem ele é mas toda a gente sabe o que faz. Não há trabalho de Banksy que passe despercebido, nem há ninguém que queira estar na mira do street artist britânico, conhecido pelos seus trabalhos satíricos e humorísticos. O artista voltou ao ataque e em época natalícia, a igreja católica e os escândalos de abusos sexuais foram os motivos do seu mais recente trabalho: um busto de um padre com a cara escondida atrás de uns azulejos.
“Cardinal Sin” é um busto de um homem que não tem cara e apenas pelos seus adereços e roupas se entende que é alguém da igreja católica, talvez um padre ou um cardeal. A substituir os seus olhos, nariz e boca, traços que permitiriam facilmente identificar o homem da escultura, estão azulejos de casa de banho, colocados de forma a criar um efeito pixelizado, frequentemente usado na televisão, jornais e revistas para preservar a identidade de alguém.
A alusão do artista é clara: os escândalos sexuais que envolvem padres e crianças e que, segundo o Banksy, têm sido abafados pela igreja católica. Como se em vez de se protegerem as crianças, fossem os padres os protegidos, cuja identidade e integridade continuaria preservada, apesar de todo o mal denunciado. “Eu nunca tenho a certeza sobre quem merece ser posto num pedestal ou ser esmagado por um”, escreveu em comunicado, citado pela BBC, Banksy, pseudónimo do artista cuja verdadeira identidade não é conhecida.
A obra foi dada a conhecer esta quarta-feira na Walker Art Gallery, em Liverpool, onde está exposta na sala de arte religiosa do século XVII, ao lado de trabalhos históricos como um retrato do arcebispo de Sevilha de 1673, pintado por Murillo, ou uma representação da Virgem de Rubens. Segundo Reyahn King, director das galerias de arte no National Museums Liverpool, as instruções para a localização da obra vieram de Banksy. “A escultura tem uma mensagem clara. Quando se olha para ela e se percebe o efeito dos azulejos, imediatamente temos a impressão daquelas imagens pixelizadas dos suspeitos criminosos que vemos nas notícias”, acrescentou o responsável.
Esta é apenas a segunda vez que Banksy cria trabalhos propositadamente para uma galeria de arte, depois de em 2009 ter preenchido o Bristol Museum and Art Gallery, no Reino Unido, com a exposição “Banksy versus Bristol Museum”, que contou com 70 obras inéditas do controverso artista, atraindo mais de 300 mil pessoas durante as 12 semanas que esteve aberta ao público.
Desta vez, é só um trabalho e vai estar exposto em Liverpool por tempo indeterminado, uma vez que a escultura foi uma oferta de Banksy à galeria. “Eu adoro tudo na Walker Gallery, os grandes mestres, a arte contemporânea, a rapariga desagradável do café, e quando descobri que Mr Walker a comprou [à galeria] com dinheiro da cerveja, tornou-se na minha galeria preferida. A estátua? Eu acho que a podem chamar de um presente de Natal. Nesta altura do ano é fácil esquecer o verdadeiro significado de Cristianismo – as mentiras, a corrupção, o abuso”, continua o comunicado de Banksy.
Polémicas à parte, a Walker Art Gallery agradece a doação, que com certeza trará muitos seguidores de Banksy a Liverpool. “O que me interessa a mim é que quando um visitante vir isto, possa olhar para os outros trabalhos da galeria e procurar as mensagens menos óbvias que os artistas deixaram nas suas obras”, disse à BBC Reyahn King, explicando que “sempre se mostrou arte controversa e sempre exisitiram trabalhos que foram considerados controversos para o seu tempo”. “Faz parte da tradição artística mostrar arte que desafia as pessoas e estamos muito contentes por expor o trabalho deste grande artista contemporâneo.”
Esta semana, também em Liverpool, provando que o artista esteve mesmo na cidade, apareceu numa parede de um parque de estacionamento um novo trabalho de Banksy: um pequeno avião que deixa um rasto de fumo em forma de coração, que entretanto já foi vandalizada pelos seus “inimigos”, os seguidores do street artist Robbo. Estes episódios de assinaturas trocadas e obras retocadas entre os seguidores de um e de outro artista têm destruído muitos dos trabalhos de ambos.

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